quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Slavoj Zizek: "Em defesa das causas perdidas"

ZIZEK, Slavoj.  Em defesa das causas perdidas. São Paulo: Boitempo, 2011. Tradução: Maria Beatriz de Medina.

Para o Estado deve haver sempre o excesso de poder incondicional sobre o povo, o Estado firme em seu próprio direito a fim de que possa evitar ser dissolvido e aniquilado «Se o Estado, por mais democrático que seja, não for sustentando por esse espectro do exercício incondicional do poder, não terá para funcionar: o poder é, por definição, em excesso, senão não é poder» (ZIZEK, 2011, p. 120).

Isso permite ao maoísta Alain Badiou afirmar que «Hoje o inimigo não se chama Império nem Capital. Chama-se Democracia» (Alain Badiou, Prefazione all’ edizione italiana, em Metapolítica, Nápoles, Cronopio, 2002, p.14 apud ZIZEK, 2011, p. 191) pois hoje o que impossibilita a critica radical do Capitalismo é exatamente se crer que se pode lutar democraticamente contra o Capital.

«A nova característica principal da China nos últimos anos foi o surgimento de um movimento operário em grande escala que protesta contra as condições de trabalho, que são o preço que a China está pagando para se tornar rapidamente a primeira potencia industrial do mundo, movimento esse que sofreu repressão violenta – uma nova prova, se ainda for necessária, de que a China hoje é o Estado capitalista ideal: liberdade para o capital com um Estado encarregado de fazer o ‘serviço sujo’ e controlar os trabalhadores» (ZIZEK, 2011, p. 198).

«O reinado do capitalismo global contemporâneo é que é o verdadeiro Senhor do Desgoverno. Não admira, portanto, que, para restringir o excesso de desintegração social causado pela explosão capitalista, as autoridades chinesas louvem as religiões e as ideologias que sustentam  estabilidade social, do budismo ao confucionismo, isto é, as mesmas ideologias que foram alvo da Revolução Cultural. Em abril de 2006, Ye Xiaowen, a maior autoridade religiosa na China, disse à agencia de (p.204) noticias Xinhua que ‘a religião é uma das forças importantes das quais a China tira seu vigor’, e destacou o budismo pelo papel inigualável na promoção de uma sociedade harmoniosa’, fórmula social oficial para combinar a expansão econômica com o desenvolvimento e a assistência social; na mesma semana, a China sediou o Fórum Budista Mundial» (ZIZEK, 2011, p. 204-205).

«Não admira que na Irlanda contemporânea, quando as crianças pequenas têm de sair sozinhas, seja comum às mães completarem a advertência tradicional – ‘Não fale com estranhos!’ – com uma nova e mais específica – ‘... nem com padres!’» (ZIZEK, 2011, p. 58).

«A ‘busca da felicidade’ é um elemento tão fundamental do ‘sonho (ideológico) norte-americano’ que tendemos a esquecer a origem contingente dessa expressão: ‘Consideremos estas verdades evidentes por si sós, que todos os homens foram criados iguais, que são dotados pelo Criador de alguns Direitos inalienáveis, que dentre eles, estão a Vida, a Liberdade e a busca da Felicidade’. De onde vem essa ‘busca da felicidade’ um tanto esquisita do famoso trecho inicial da Declaração de Independência dos Estados Unidos? A fonte é John Locke, que afirmava que todos os homens possuíam os direitos naturais da vida, da liberdade e da propriedade; esta última foi substituída por ‘busca da felicidade’ durante as negociações para a redação da Declaração como forma de negar aos negros a direito à propriedade » (ZIZEK, 2011, p. 64).

«Longe de aceitar tais regras, o dever de todo sujeito ético não seria combater esse universo por todos os meios possíveis, inclusive a remoção física (assassinato0 da liderança totalitária?» (ZIZEK, 2011, p. 105).

«À dominação pertence o poder, que cria uma hierarquia de graus por meio da imposição da vontade daquele que governa, na medida em que é realmente poderoso, isto é, na medida em que dispõe daqueles sob seu domínio» (FAYE, Emmanuel, Heidegger, p. 239 apud ZIZEK, 2011, p. 146).

«A verdadeira coragem do ato é sempre a coragem de aceitar a inexistência do grande Outro, isto é, de atacar a ordem existente no ponto do nó de seu sintoma» (ZIZEK, 2011, p. 163).

«Em toda a Coréia do Norte, as aldeias são decoradas com slogans comunistas e retratos de Kim Jong-il. O Vale no 2 tinha apenas um slogan entalhado numa placa de madeira: ‘Todos obedecem aos regulamentos’ » (ZIZEK, 2011, p. 262). Ver Choe Sang-hun, “Born and Raised in North Korean Gulag”, International Herald Tribune, 9/7/2007, disponível em: <http://www.iht.com/articles/2007/07/09/news/korea.php>.

«Piada polonesa à época do socialismo do Estado Popular na ditadura do proletariado marxista/stalinista – ‘o socialismo é a síntese das maiores conquistas de todos os modos de produção anteriores: da sociedade tribal pré-classes ele extrai o primitivismo; do modo de produção asiático, o despotismo; da Antiguidade, a escravidão; do feudalismo, a dominação social dos senhores sobre os servos; do capitalismo, a exploração e do socialismo, o nome’» (ZIZEK, 2011, p. 319).

«Para Lacan, o sujeito precede a subjetivação, a subjetivação (a constituição da ‘vida interior’ da experiência do sujeito) é uma defesa contra o sujeito. Como tal, o sujeito é uma (pré)condição do processo de subjetivação, no mesmo sentido em que, na década de 1960, Herbert Marcuse afirmava que a liberdade é a condição da libertação» (ZIZEK, 2011, p. 343).

«Rousseau já havia observado que o egoísmo, ou a preocupação com o próprio bem estar, não se opõe ao bem comum, já que é possível deduzir facilmente normas altruístas a partir de preocupações egoístas» (ZIZEK, 2011, p. 345).

«O partido percebe-se/postula-se como selbst-aufhebung (auto-superação) dos movimentos: ele não negocia com movimentos, ele é um movimento transubstanciado na forma de universalidade política, pronto a assumir o poder total do Estado e, como tal, ne s’autorise que de lui-même - autorizado apenas por si mesmo - » (ZIZEK, 2011, p. 376).

«Quanto ao terror, não o expulsai completamente da cidade. Que mortal é deverás íntegro sem ter medo? Os que sentem medo reverenciam o que é certo. Com cidadãos assim, seu país e sua cidade estarão em segurança, mais fortes do que tudo o que os homens possuem» (Ésquilo, Eumenides apud ZIZEK, 2011, p. 426).

Nenhum comentário:

Postar um comentário