quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Emma Goldman: a morte de Kronstadt


A MORTE DE KRONSTADT

«O canhoneio de Kronstadt continuou sem interrupção durante dez dias e dez noites, e cessou subitamente na manhã de 17 de março. O silêncio que cobriu Petrogrado foi mais terrível que os tiros incessantes da noite anterior. A agonia da espera apossou-se de todos nós. Era impossível saber o que havia acontecido e por que o bombardeio havia cessado bruscamente. No final da tarde a tensão deu lugar a um horror mudo. Kronstadt havia sido subjugada… Dezenas de milhares de homens assassinados a cidade mergulhada em sangue. A neve tornou-se o túmulo de um grande número de homens, kursanty e jovens comunistas, cuja artilharia pesada tinha fendido o gelo. Os heróicos marinheiros e soldados tinham defendido suas posições até o último sopro de vida. Aqueles que não tiveram a chance de morrer combatendo caíram nas mãos do inimigo para serem executados ou enviados à lenta tortura das regiões geladas do norte da Rússia… Eu sentia os membros pesados como chumbo, uma fadiga imensa em cada nervo. Sentada, inerte, eu olhava a noite. Petrogrado estava coberta por uma negra mortalha, um cadáver assustador!... As lâmpadas das ruas piscavam suas luzes amarelas, como círios colocados à cabeça ou aos pés do morto. No dia seguinte, 18 de março, ainda meio adormecida após a falta de sono durante os 17 dias de angústia, fui despertada pelo estrépido de muitos passos. Os comunistas passavam marchando, as músicas imitavam as marchas militares e cantava-se a Internacional. Seus tons, outrora jubilosos aos meus ouvidos, soavam agora como um canto fúnebre pela esperança ardente da humanidade. 18 de março: aniversário da Comuna de Paris de 1871… esmagada dois meses depois por Thiers e Gallifet, os carniceiros de 30.000 comuneiros! Imitados em Kronstadt, a 18 de março de 1921» (ARVON, 1984, p. 77 apud GOLDMAN).
 
(Texto extraído de Linving my Life, autobiografia de Emma Goldman).

PS.:

1. Posicionamento de Leon Trotsky [Lev Davidovich Bronstein – 1879-1940]

è Assina o Ultimato em 5 de março de 1921:

«O governo operário e camponês ordena a Kronstadt que coloque, sem demora, Kronstadt e os navios amotinados à disposição da República Soviética. Ordeno pois, a todos aqueles que levantaram a mão contra a pátria socialista, que deponham imediatamente as armas, que desarmem os que se obstinam e que entreguem-nos às autoridades soviéticas, que libertem imediatamente os comissários e os representantes do poder. Somente aqueles que se renderem sem condições poderão contar com a clemência da República Soviética. Ao mesmo tempo, dou ordens para a preparação e o esmagamento da rebelião e dos amotinados pela força armada. A responsabilidade pela desgraça que se abater em consequência sobre a população pacífica repousará inteiramente sobre os ombros dos insurretos. A presente advertência é a última» (ARVON, 1984, p. 60).

2. Posicionamento de Zinoviev [Diretor do Comitê de Defesa de Petrogrado]

è Assina mensagem  de Kronstadt em 5 de março de 1921:

«Aos de Kronstadt, enganados: Agora vocês percebem aonde foram levados pelos patifes? Eis onde vocês estão!... Todos esses Petrichenko e outros Tukin (membro do Comitê Revolucionário Provisório encarregado do abastecimento, ex-soldado e, segundo os bolcheviques, proprietário de seis casas e de três lojas em Petrogrado) são manipulados como marionetes pelo general czarista Kozlovsky, pelos capitães e outros guardas brancos reconhecidos. Vocês estão sendo enganados!... Vocês estão cercados por todos os lados. Algumas horas mais e serão obrigados a render-se. Kronstadt está sem pão e sem combustíveis.  Se vocês persistirem serão caçados como perdizes. Todos esses generais de Kozlovsky, todos esses patifes como Petrichenko, Tukin… fugirão no último minuto… Rendam-se imediatamente sem perder um minuto. Aquele que se render voluntariamente será perdoado. Rendam-se imediatamente» (ARVON, 1984, p. 61).

ARVON, Henri. A revolta de Kronstadt. São Paulo: Editora Brasiliense, 1984. Tradução de: Elvira Serapico.